O Relatório que Assombrou o Mundo Há exatos 50 anos ocorreu o 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética. Nikita Kruschev era o secretário geral do PC e leu , na ocasião, um documento que se tornou célebre por ter abalado o mundo inteiro. O relatório era para ser secreto, restrito aos integrantes do comitê central do PCUS. Mas vazou e todos os órgãos da mídia internacional deram ampla divulgação ao documento que fazia uma revisão da política de Stálin na União Soviética com denúncia até então inimagináveis na época. As repercussões políticas foram imensa, não apenas na URSS, mas fora delas, principalmente nos Partidos Comunistas ocidentais que, de uma hora para outra, viram-se na urgência de revisar suas posições. Aí dois pólos: o Partido Comunista Italiano, que desde o fim da Segunda Guerra Mundial, baseado na linha política de Antonio Gramsci, construía sua política a partir da realidade italiana, e o Partido Comunista Francês que sempre se alinhou de forma incondicional aos soviéticos. Eram os dois mais importantes PCs do Ocidente. Mas o debate estava instalado e era impossível escapar dele. Os italianos mais independentes e melhor aparelhados teoricamente tornaram-se uma referência para a esquerda mundial. Os franceses, mais duros, perderam alguns de seus intelectuais mais expressivos. O pequeno, mas influente, PC inglês, também soube tirar proveito do sopro de liberdade que o Relatório de Kruschev gerou. No Brasil, o fato teve uma enorme repercussão, gerando a dissidência de Agildo Barata que era o segundo líder em importância no Partidão, apenas depois de Luis Carlos Prestes. Entretanto, o que os meios de comunicação, com raras exceções, nunca chegaram a mencionar na época é que muitos anos antes do célebre relatório, o líder revolucionário Leon Trotsky já havia feito o inventário do stalinismo com muito mais profundidade do que o Relatório de Kruschev. Em obras como "A Revolução Desfigurada", "A Revolução Traída", "Os Crimes de Stálin", Trotsky já havia feito a denúncia e analisado o surgimento de um novo regime político que ele chamaria de o "termidor soviético", uma negação dos princípios e propósitos da Revolução Socialista de 1917: um regime político, social e econômico que tinha como único fator ativo a camada burocrática detentora absoluta do poder. Anos depois, logo ao final da Segunda Guerra, um pequeno grupo da esquerda francesa, animado principalmente por Cornelius Castoriadis, criou a revista "Socialismo ou Barbárie", que iria ainda mais longe nas críticas à burocracia soviética, negando que esta era uma casta parasitária, como pensava Trotsky, mas sim era uma nova classe social que dirigia um tipo diferente de capitalismo, o "capitalismo burocrático total". A invasão da Hungria, em novembro de 1956, pelas tropas soviéticas que esmagaram a revolução dos conselhos operários, iria comprometer seriamente o Relatório de Kruschev, mas os efeitos deste foram fundamentais para a posterior evolução da esquerda mundial. Não podemos desprezar na história da esquerda brasileira este momento crucial do Século XX. Nós do PT, de certa forma somos também resultado do esfacelamento parcial do regime stalinista em 1956, quando se abriram as perspectivas para o surgimento vigoroso de uma nova esquerda em escala internacional. ___________________________________________________ 27/03/2006 - PTSUL |